Postado em: 24 janeiro, 2023

20 ANOS DA LEI 10.639/03: ANIMAÇÃO DESTACA IMPORTÂNCIA E DESCASO COM HISTÓRIAS DAS CULTURAS AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA

Elaborado pelo Projeto Seta, iniciativa de educação antirracista de sete organizações da sociedade civil, vídeo reitera que “Sem respeito à memória, não há mudança” no Brasil.

Há 20 anos, em 09 de janeiro de 2003, o Brasil promulgou a lei federal 10.639/03, que estabelece obrigatoriedade do ensino da história e das culturas afro-brasileira e africana nos ensinos fundamental e médio. Hoje, após duas décadas, a sua efetivação ainda não é uma realidade. Para mobilizar às populações do Brasil em prol da implementação da legislação que fortalece a educação antirracista no país, o Projeto Seta – Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista, lança nesta terça-feira, 24 de janeiro, data marco do Dia Internacional da Educação, o vídeo “Sem respeito à memória, não há mudança – 20 anos da lei 10.639/03 no Brasil”.

Para a historiadora Ana Paula Brandão, diretora programática da ActionAid no Brasil, uma das organizações gestoras do Seta, este vídeo simboliza a importância da filosofia africana Sankofa. “Não podemos pensar no futuro, sem, no presente, nos conectarmos ao passado. Ao longo dos anos, aconteceram muitos marcos importantes para a implementação de uma educação antirracista no Brasil. O caminho foi longo para que a lei 10.639/03 fosse uma realidade. E não podemos, nem permitiremos, em respeito aos nossos ancestrais, o apagamento e silenciamento das nossas lutas passadas na historiografia”.

O vídeo foi elaborado pelo Seta em formato “draw my life”, desenhos com história narrada, e traça uma linha do tempo com destaques de fatos históricos da luta antirracista nacional e internacional. O projeto de educação antirracista, financiado pela Fundação W.K. Kellogg, é gerido pelas organizações: ActionAid, Ação Educativa, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, CONAQ – Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas , Geledés – Instituto da Mulher Negra, Makira E’ta – Rede de Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas e UNEafro Brasil.

Educação Antirracista e lei 10.639/03

O caminho foi longo para o surgimento da 10.639/03. Passando por uma linha do tempo com marcos históricos que se intercruzam no objetivo do enfrentamento ao racismo. Tais como a criação da Fundação Palmares, em 1988, a 1a Marcha Zumbi contra o Racismo, pela Cidadania e pela Vida, em 1995, a 3a Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, em Durban, na África do Sul, em 2001, chegando a luta do movimento negro para sancionar a histórica lei em 2003.

Luciana Ribeiro, especialista em educação do projeto Seta, destaca que a lei 10.639/03 alterou a lei de diretrizes e bases da educação brasileira, tornando obrigatória a inclusão da História e Cultura Afro-Brasileira na grade curricular da educação básica e da formação docente. “Em 2008, a LDB ainda foi alterada pela Lei 11.645, que incluiu a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura indí​​gena. E em 2014, o Plano Nacional da Educação estabeleceu metas e prazos para que os currículos da Educação Básica e dos cursos de Pedagogia e Licenciaturas promovam o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Infelizmente, 20 anos se passaram e a lei não foi implementada de forma efetiva”

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O racismo estrutural no Brasil tem dificultado, de forma sistêmica, o acesso ao direito a uma educação pública igualitária e de qualidade pelos estudantes negros, quilombolas e indígenas. A qualidade da educação que as crianças recebem no Brasil é profundamente segmentada por status racial e socioeconômico. E, hoje, identifica-se que as lacunas entre crianças brancas e crianças negras, quilombolas e indígenas, em todos os indicadores da educação básica, são persistentes e mais graves para jovens de 11 a 17 anos. Crianças e jovens negros, quilombolas e indígenas são os mais propensos a abandonar a escola, têm maiores taxas de exclusão e menor nível educacional. Portanto, a eles são destinados os empregos de menor prestígio e salários mais baixos quando adultos. Enquanto isso, os alunos brancos internalizam as desigualdades raciais a que são expostos nas escolas e as replicam quando adultos. Quando se observa os indicadores de aprendizagem, conclui-se também que não há apenas mais barreiras de acesso à escola para crianças negras, quilombolas e indígenas, mas, que uma vez na escola, essas crianças são menos propensas a acessar à educação de qualidade.

O Projeto SETA busca realizar ações transformadoras com base em evidências resultantes de estudos que ajudam a compreender a complexidade das relações raciais no país e as problemáticas delas decorrentes que precisam ser enfrentadas. Neste sentido, prevê uma série de estudos com recortes nacional e regionais em seus territórios de intervenção, especialmente no Amazonas, Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo. O objetivo é mapear a percepção da sociedade em geral, de profissionais da educação e estudantes sobre o racismo, as desigualdades raciais em geral e na educação, a efetividade das políticas de combate ao racismo, as lacunas de ferramentas e metodologias para fomento à equidade racial e as estratégicas bem-sucedidas e boas práticas nacionais e internacionais que podem inspirar ações de valorização da diversidade e das diferenças e de mitigação das desigualdades, especialmente na área de educação.

1) Pesquisa bianual de mapeamento de público sobre percepções do racismo pela sociedade brasileira.
2) Grupos focais bianuais sobre percepções do racismo pelas comunidades escolares.
3) Monitoramento e avaliação dos indicadores educacionais com análise dos indicadores da educação com foco em raça, gênero e território.
4) Estudos liderados pelas organizações que compõem o Projeto SETA sobre “educação escolar indígena”, “educação escolar quilombola”, “trajetória educacional de meninas negras”, “juventude negra, educação e violência”, “impacto da reforma do ensino médio no aprofundamento das desigualdades educacionais” e “construção participativa de indicadores e diagnóstico sobre qualidade na educação e relações raciais”.
Todas essas produções são/serão disponibilizadas publicamente para auxiliar a sociedade na construção de narrativas qualificadas, com base no retrato da realidade, em defesa da equidade racial na educação, além de orientar ações do projeto.

O PROJETO SETA – SISTEMA DE EDUCAÇÃO PARA UMA TRANSFORMAÇÃO ANTIRRACISTA É UM PROJETO APOIADO PELA FUNDAÇÃO W. K. KELLOGG, DESDE 2021, QUE REÚNE ORGANIZAÇÕES NACIONAIS E INTERNACIONAIS EM ATUAÇÃO CONJUNTA POR UMA EDUCAÇÃO PÚBLICA ANTIRRACISTA E DE QUALIDADE.