Postado em: 10 fevereiro, 2022

Impacto da guerra às drogas na educação é tema de debate no Projeto SETA

Especialistas dialogam às 13h da próxima sexta-feira, 11, no Instagram da iniciativa @setaprojeto, sobre o impacto do confronto armado na educação de milhares de crianças.

O Projeto SETA (Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista) realiza, na próxima sexta-feira, 11, às 13h, a terceira edição do #SetaDebate, com o tema “Quais os impactos da Guerra às Drogas na educação no Brasil?”. O encontro acontecerá no Instagram do projeto (@setaprojeto) e tem como objetivo abordar a pesquisa “Tiros no Futuro”, do projeto Drogas: Quanto Custa Proibir (@drogas_quantocustaproibir), do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (SME-RJ). O estudo revela como a escolha política do Estado pelo confronto armado mata o futuro de milhares de crianças da cidade do Rio de Janeiro.

Como ano-base 2019, a pesquisa mostrou que o cotidiano violento fez com que estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental tivessem a perda de um semestre em Língua Portuguesa e um ano letivo em Matemática. Das 1.577 escolas municipais do Rio, 1.154 foram afetadas por tiroteios com a presença de agentes de segurança. E apenas quatro escolas concentraram 95 tiroteios no entorno.

Para discutir o tema, Rachel Machado, Socióloga e Pesquisadora do Projeto Drogas: Quanto Custa Proibir e Adriana Moreira, Doutoranda em Educação e Desigualdades – FE-USP e integrante da Uneafro Brasil se reúnem à mediadora Midiã Noelle, Jornalista e Coordenadora de Comunicação do SETA.

“Viver em territórios demarcados pelas violências sistemáticas implica em instituições conformadas por esses sistemas de violações que, por sua vez, incidirão de modo singular na maneira como estão condicionadas a investir no desenvolvimento biopsicosocial das crianças e adolescentes atendidos nas escolas destes territórios. Isso significa dizer que, as escolas que estão localizadas em territórios vulnerabilizados pela violência da política do proibicionista que é racista, via de regra, do ponto de vista mais palpável, possuem elevados índices de evasão escolar, distorção idade-série e reprovação”, analisa Adriana.

A doutoranda completa: “Somado a isso, as crianças e adolescentes também são obrigadas a conviver com a ideia da morte prematura de seus colegas, amigos, primos e irmãos o que, nem sempre acaba sendo uma questão tematizada pelas unidades escolares e, assim, tende a apoiar o processo de normalização de homicídio de adolescentes/jovens negros denunciado há décadas pelo movimento negro brasileiro como sendo uma das estratégias mais perversas do Genocídio do Negro Brasileiro”.

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O racismo estrutural no Brasil tem dificultado, de forma sistêmica, o acesso ao direito a uma educação pública igualitária e de qualidade pelos estudantes negros, quilombolas e indígenas. A qualidade da educação que as crianças recebem no Brasil é profundamente segmentada por status racial e socioeconômico. E, hoje, identifica-se que as lacunas entre crianças brancas e crianças negras, quilombolas e indígenas, em todos os indicadores da educação básica, são persistentes e mais graves para jovens de 11 a 17 anos. Crianças e jovens negros, quilombolas e indígenas são os mais propensos a abandonar a escola, têm maiores taxas de exclusão e menor nível educacional. Portanto, a eles são destinados os empregos de menor prestígio e salários mais baixos quando adultos. Enquanto isso, os alunos brancos internalizam as desigualdades raciais a que são expostos nas escolas e as replicam quando adultos. Quando se observa os indicadores de aprendizagem, conclui-se também que não há apenas mais barreiras de acesso à escola para crianças negras, quilombolas e indígenas, mas, que uma vez na escola, essas crianças são menos propensas a acessar à educação de qualidade.

O Projeto SETA busca realizar ações transformadoras com base em evidências resultantes de estudos que ajudam a compreender a complexidade das relações raciais no país e as problemáticas delas decorrentes que precisam ser enfrentadas. Neste sentido, prevê uma série de estudos com recortes nacional e regionais em seus territórios de intervenção, especialmente no Amazonas, Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo. O objetivo é mapear a percepção da sociedade em geral, de profissionais da educação e estudantes sobre o racismo, as desigualdades raciais em geral e na educação, a efetividade das políticas de combate ao racismo, as lacunas de ferramentas e metodologias para fomento à equidade racial e as estratégicas bem-sucedidas e boas práticas nacionais e internacionais que podem inspirar ações de valorização da diversidade e das diferenças e de mitigação das desigualdades, especialmente na área de educação.

1) Pesquisa bianual de mapeamento de público sobre percepções do racismo pela sociedade brasileira.
2) Grupos focais bianuais sobre percepções do racismo pelas comunidades escolares.
3) Monitoramento e avaliação dos indicadores educacionais com análise dos indicadores da educação com foco em raça, gênero e território.
4) Estudos liderados pelas organizações que compõem o Projeto SETA sobre “educação escolar indígena”, “educação escolar quilombola”, “trajetória educacional de meninas negras”, “juventude negra, educação e violência”, “impacto da reforma do ensino médio no aprofundamento das desigualdades educacionais” e “construção participativa de indicadores e diagnóstico sobre qualidade na educação e relações raciais”.
Todas essas produções são/serão disponibilizadas publicamente para auxiliar a sociedade na construção de narrativas qualificadas, com base no retrato da realidade, em defesa da equidade racial na educação, além de orientar ações do projeto.

O PROJETO SETA – SISTEMA DE EDUCAÇÃO PARA UMA TRANSFORMAÇÃO ANTIRRACISTA É UM PROJETO APOIADO PELA FUNDAÇÃO W. K. KELLOGG, DESDE 2021, QUE REÚNE ORGANIZAÇÕES NACIONAIS E INTERNACIONAIS EM ATUAÇÃO CONJUNTA POR UMA EDUCAÇÃO PÚBLICA ANTIRRACISTA E DE QUALIDADE.