Postado em: 23 agosto, 2024

Liderança jovem tem papel fundamental na disseminação da educação indígena no estado do Amazonas

Herbert - Foto Rosana Brito Xavier

Emanuel Herbert é consultor de comunicação indígena da Makira E’ta, organização integrante da aliança do Projeto SETA

Inspiração, desejo de igualdade educacional e vontade de reforçar a importância da educação indígena, esses são pontos em comum e fundamentais que unem Emanuel Herbert e Socorro Elias, além do elo filho e mãe, na luta pela educação antirracista. Ele é Consultor de comunicação indígena e ela,  Coordenadora Executiva da Makira E’ta – Rede de Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas. A organização faz parte do Projeto SETA. Fundada em 2017, a Rede de Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas nasceu com o objetivo de representar, a nível estadual, diversas organizações, movimentos, cooperativas e associações de mulheres indígenas.

Caminhada movida pelo desejo de transmitir informações

Apesar da referência de sua mãe, a caminhada profissional de Herbert, de 26 anos, foi autêntica. Os recorrentes episódios de racismo, sofridos por ele, fizeram com que se interessasse pela temática e buscasse mais informações a fim de entender as complexidades que envolvem o crime e, também, poder transmitir esse conhecimento para aqueles que não tinham acesso à informação. 

Quando perguntava para meus parentes o que era educação antirracista, por exemplo, eles não sabiam responder, então, passei a explicar e entendi que deveria levar essas informações para mais pessoas, principalmente, a juventude indígena, pois a escola não nos ensina sobre e eu não podia esperar que eles chegassem à faculdade para começar a entender esse grande sistema do racismo”, comentou. 

Para Socorro Elias, ver o filho seguir um caminho semelhante ao seu, é motivo de orgulho. Porém, a educadora salienta que a sua maior satisfação é o fato dele conseguir envolver jovens indígenas dos centros urbanos e dos territórios na reflexão do significado e da importância da Educação Antirracista. “Herbert sempre foi questionador e ao mesmo tempo sugeria mudanças nas metodologias utilizadas nos trabalhos em campo”, comentou Socorro. 

Desafios durante a caminhada

Herbert conta com um currículo admirável. é discente de psicologia, pesquisador científico do laboratório de fenomenologia existencial da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), liderança jovem no movimento indígena do Amazonas,mobilizador em saúde mental para crianças e adolescentes, coordenador da rede de jovens comunicadores indígenas, Mentor do projeto de jovens lideranças indígenas JAPER e consultor de comunicação indígena no Projeto SETA. 

No entanto, um dos desafios que enfrentou ao longo de sua caminhada foi a desqualificação, de acordo com ele, por ser jovem, indígena e pela força que, infelizmente, o racismo ainda tem. Para Herbert, os avanços conquistados pela sociedade ainda são poucos, porém, hoje, existem mais pessoas indígenas formadas e, também, jovens que buscam a educação como fonte de mudança em suas vidas. 

Desejo que a educação seja efetivada pelos indígenas, respeitada e valorizada, que nossos profissionais da educação possam ser os autores de nossas histórias, que a educação de qualidade e de equidade com respeito etnocultural seja uma realidade no futuro, que a educação etnoterritorializada seja além de conhecida, concretizada”, salientou o educador indígena.

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Central de Ajuda

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O racismo estrutural no Brasil tem dificultado, de forma sistêmica, o acesso ao direito a uma educação pública igualitária e de qualidade pelos estudantes negros, quilombolas e indígenas. A qualidade da educação que as crianças recebem no Brasil é profundamente segmentada por status racial e socioeconômico. E, hoje, identifica-se que as lacunas entre crianças brancas e crianças negras, quilombolas e indígenas, em todos os indicadores da educação básica, são persistentes e mais graves para jovens de 11 a 17 anos. Crianças e jovens negros, quilombolas e indígenas são os mais propensos a abandonar a escola, têm maiores taxas de exclusão e menor nível educacional. Portanto, a eles são destinados os empregos de menor prestígio e salários mais baixos quando adultos. Enquanto isso, os alunos brancos internalizam as desigualdades raciais a que são expostos nas escolas e as replicam quando adultos. Quando se observa os indicadores de aprendizagem, conclui-se também que não há apenas mais barreiras de acesso à escola para crianças negras, quilombolas e indígenas, mas, que uma vez na escola, essas crianças são menos propensas a acessar à educação de qualidade.

O Projeto SETA busca realizar ações transformadoras com base em evidências resultantes de estudos que ajudam a compreender a complexidade das relações raciais no país e as problemáticas delas decorrentes que precisam ser enfrentadas. Neste sentido, prevê uma série de estudos com recortes nacional e regionais em seus territórios de intervenção, especialmente no Amazonas, Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo. O objetivo é mapear a percepção da sociedade em geral, de profissionais da educação e estudantes sobre o racismo, as desigualdades raciais em geral e na educação, a efetividade das políticas de combate ao racismo, as lacunas de ferramentas e metodologias para fomento à equidade racial e as estratégicas bem-sucedidas e boas práticas nacionais e internacionais que podem inspirar ações de valorização da diversidade e das diferenças e de mitigação das desigualdades, especialmente na área de educação.

1) Pesquisa bianual de mapeamento de público sobre percepções do racismo pela sociedade brasileira.
2) Grupos focais bianuais sobre percepções do racismo pelas comunidades escolares.
3) Monitoramento e avaliação dos indicadores educacionais com análise dos indicadores da educação com foco em raça, gênero e território.
4) Estudos liderados pelas organizações que compõem o Projeto SETA sobre “educação escolar indígena”, “educação escolar quilombola”, “trajetória educacional de meninas negras”, “juventude negra, educação e violência”, “impacto da reforma do ensino médio no aprofundamento das desigualdades educacionais” e “construção participativa de indicadores e diagnóstico sobre qualidade na educação e relações raciais”.
Todas essas produções são/serão disponibilizadas publicamente para auxiliar a sociedade na construção de narrativas qualificadas, com base no retrato da realidade, em defesa da equidade racial na educação, além de orientar ações do projeto.

O PROJETO SETA – SISTEMA DE EDUCAÇÃO PARA UMA TRANSFORMAÇÃO ANTIRRACISTA É UM PROJETO APOIADO PELA FUNDAÇÃO W. K. KELLOGG, DESDE 2021, QUE REÚNE ORGANIZAÇÕES NACIONAIS E INTERNACIONAIS EM ATUAÇÃO CONJUNTA POR UMA EDUCAÇÃO PÚBLICA ANTIRRACISTA E DE QUALIDADE.