Postado em: 11 setembro, 2023

Projeto SETA e Peregum realizam evento de lançamento da pesquisa “Percepções do racismo no Brasil”

Durante a manhã do dia 04 de agosto (sexta-feira), a sede do Geledés – Instituto da Mulher Negra, localizada em São Paulo, recebeu o evento de lançamento da pesquisa “Percepções do racismo no Brasil”. O estudo foi uma parceria do Projeto SETA e do Instituto de Referência Negra Peregum, encomendado ao Ipec. A pesquisa constatou que 81% da população considera o Brasil um país racista (60% concordam totalmente e 21% concordam em parte) e que o racismo é o principal fator gerador de desigualdade na opinião da população brasileira, sendo que 44% dos entrevistados indicaram que raça/cor/etnia é o fator que mais contribui para o cenário.

Da mesa de abertura participaram Ana Paula Brandão, Gestora do Projeto SETA e Diretora Programática da ActionAid e Vanessa Nascimento, Diretora-executiva do Peregum. Marcio Black, Coordenador Executivo do Peregum, foi responsável pela mediação da mesa composta pela Jaqueline Santos, Gestora e Consultora de Monitoramento e Avaliação do Projeto SETA, Adriana Moreira, Representante da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) e Helio Santos, Professor, Pesquisador e Consultor de gestão da Diversidade.

A abertura do evento realizada por Suelaine Carneiro, Coordenadora de Educação e Pesquisa do Geledés, Vanessa Nascimento, Diretora-executiva do Peregum e Ana Paula Brandão, Gestora do Projeto SETA e Diretora Programática da ActionAid. Foto: Thiago Fernandes
Com o objetivo de apresentar o estudo de maneira mais dinâmica, realizar comentários relevantes sobre os dados e conectá-los com a realidade do país, nos campos da educação, da economia e dos movimentos sociais, o encontro reuniu representantes de instituições, como: Ação Educativa, Associação Museu AfroBrasil, Canal Futura, Perifa Connection e Instituto Unibanco. Na ocasião, além de terem acesso aos detalhes do estudo, os convidados puderam comentar e tirar dúvidas acerca dos dados divulgados.

O início do evento foi marcado com as boas-vindas dadas pela Coordenadora de Educação e Pesquisa, do Geledés, Suelaine Carneiro. A profissional elegeu o encontro como a consagração de o quanto o movimento negro atuou a fim de tornar o racismo um tema estratégico para se pensar em melhorias ao país. “Esse também é um momento para começarmos a tentar entender esse racismo que não avança, mas também não regride”, comentou a coordenadora.

Estratégias de atuação para o movimento negro

Na mesa de abertura do evento, Ana Paula Brandão e Vanessa Nascimento, fizeram as falas iniciais do debate. “Os resultados desse estudo são importantes para o Peregum, a fim de encontrarmos estratégias de atuação e, também, para outras organizações do movimento negro que, historicamente, lutam contra o racismo e cobram do estado políticas públicas efetivas capazes de defender os direitos da população negra”, comentou Vanessa.

Ana Paula Brandão agradeceu a parceria com as instituições e salientou a relevância do levantamento. “A pesquisa vai nos guiar para um acompanhamento mais adequado da situação do racismo no Brasil e nos ajudará a entender como as pessoas percebem a temática no país”. Para a Gestora do SETA, os dados possibilitam enxergar como o movimento negro conseguiu pautar a sociedade para pensar e discutir essas questões que estão, na visão de Ana Paula, há séculos invisibilizadas e silenciadas na sociedade.

Durante a mediação da mesa do debate, Marcio Black destacou o papel da pesquisa para auxiliar o movimento negro na criação de um estado de opinião sobre as estruturas raciais no Brasil.

Manutenção das políticas de equidade racial

Jaqueline Santos, Consultora de Monitoramento e Avaliação do Projeto SETA, apresentou os principais dados da pesquisa. Foto: Thiago Fernandes
A Gestora e Consultora de Monitoramento e Avaliação do Projeto SETA, Jaqueline Santos, apresentou os principais dados da pesquisa, a metodologia utilizada e, também, frisou a relevância do trabalho. “Considero que esse estudo vem em um momento estratégico, de reconstrução das políticas relacionadas à equidade racial e ao enfretamento ao racismo no Brasil”, reforçou.

Durante a sua apresentação, a Gestora e Consultora do SETA, comentou sobre a semelhança da mostra com as pesquisas de períodos eleitorais. O estudo foi realizado com duas mil pessoas, número proporcional aos perfis representativos da população brasileira, com 16 anos ou mais. O levantamento entrevistou cidadãos de 127 municípios brasileiros das cinco regiões do país durante o mês de abril de 2023. O intervalo de confiabilidade da pesquisa é de 95% e a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Confira os principais dados do estudo “Percepções do racismo no Brasil”

81% das pessoas participantes concordam que o Brasil é um país racista, sendo que 60% concordam totalmente e 21% concordam em parte;
24% das pessoas afirmaram terem sofrido racismo (17% concordando totalmente e 7% concordando em parte). Dessas pessoas, 38% apontam as instituições de ensino como locais onde essa violência ocorreu;
No que diz respeito à abordagem policial, 79% concordam que ela é baseada na cor da pele, tipo de cabelo e tipo de vestimenta (63% concordam totalmente e 16% concordam em parte);
Em relação a cotas raciais em específico, 74% da população brasileira é a favor da reserva de vagas em vagas em faculdades/universidades, concursos públicos e empregos em empresas privadas para a população negra e/ou indígena;
90% da população declara que as pessoas pretas são as que mais sofrem racismo;
88% concordam (76% totalmente e 12% em parte) que as pessoas negras são mais criminalizadas do que as pessoas brancas;
84% concordam (71% concordam totalmente e 13% concordam em parte) que pessoas brancas e negras são tratadas de forma diferente pela polícia;
A violência verbal, como xingamentos e ofensas, é a forma de manifestação de racismo mais indicada pelas pessoas respondentes da pesquisa, sendo apontada por 66%.

Adversidades na educação básica brasileira

A lei federal 10.639/2003 que, neste ano, completa duas décadas, tornou obrigatório o ensino de “história e cultura afro-brasileira” dentro dos currículos da grade escolar dos ensinos fundamental e médio. Porém, de acordo com dados do estudo “Percepções do racismo no Brasil”, apesar de estar na legislação, a realidade é muito diferente.

Os dados mostram que apenas 46% aprenderam sobre história e cultura afro-brasileira, 37% sobre racismo, 25% sobre história e cultura africana. Para Adriana Moreira, os estudantes negros vivem uma tragédia na escola pública brasileira, sobretudo, os meninos. De acordo com a integrante da SECADI, ainda existe uma enorme dificuldade em enxergar esse grave problema. “Precisamos promover um debate duro, que vai para um enfrentamento político mais delicado, mas sem instrumentos de pressão não avançamos, principalmente, na educação básica”, destacou.

Durante a sua fala, Hélio Santos, comentou que, na pesquisa, há achados estratégicos e, também, diversas contradições por parte dos respondentes. Para o educador, a falta de oportunidades é responsável por deteriorar a cidadania e a mostra é muito importante, pois representa três quartos da população brasileira. Santos usou a metáfora “não podemos aceitar band-aid para fratura exposta” a fim de ratificar que a sociedade deve cobrar medidas efetivas no que diz respeito à discriminação racial.

O momento final do encontro foi dedicado aos comentários de alguns dos convidados que acompanharam o debate. Ivanilda Cardoso, Analista de Projetos Educacionais do Instituto Unibanco, ressaltou o percentual das pessoas que afirmam já ter sofrido racismo dentro das instituições de ensino como o que mais lhe chamou atenção. Para ela, o dado reflete a realidade de que as escolas são espaço onde as experiências raciais são mais nocivas e atravessam de forma muito intensa a trajetória de vida das pessoas.

Para Antônio Junião, Representante do Portal de Notícias Ponte Jornalismo, uma pesquisa como a do Projeto SETA, em parceria com o Instituto de Referência Negra Peregum, é um importante instrumento para discutir as questões raciais e, também, impacta na construção de políticas públicas.

Mesa composta por Jaqueline Santos, Adriana Moreira, Representante da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) e Helio Santos, Professor, Pesquisador e Consultor de gestão da Diversidade. Foto: Thiago Fernandes
Para acessar o sumário executivo e todos dados do estudo “Percepções do racismo no Brasil” basta clicar no link: https://percepcaosobreracismo.org.br

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Central de Ajuda

Reunimos em categorias as respostas para as suas principais dúvidas. É só clicar no assunto que procura para filtrar as perguntas já respondidas.

O racismo estrutural no Brasil tem dificultado, de forma sistêmica, o acesso ao direito a uma educação pública igualitária e de qualidade pelos estudantes negros, quilombolas e indígenas. A qualidade da educação que as crianças recebem no Brasil é profundamente segmentada por status racial e socioeconômico. E, hoje, identifica-se que as lacunas entre crianças brancas e crianças negras, quilombolas e indígenas, em todos os indicadores da educação básica, são persistentes e mais graves para jovens de 11 a 17 anos. Crianças e jovens negros, quilombolas e indígenas são os mais propensos a abandonar a escola, têm maiores taxas de exclusão e menor nível educacional. Portanto, a eles são destinados os empregos de menor prestígio e salários mais baixos quando adultos. Enquanto isso, os alunos brancos internalizam as desigualdades raciais a que são expostos nas escolas e as replicam quando adultos. Quando se observa os indicadores de aprendizagem, conclui-se também que não há apenas mais barreiras de acesso à escola para crianças negras, quilombolas e indígenas, mas, que uma vez na escola, essas crianças são menos propensas a acessar à educação de qualidade.

O Projeto SETA busca realizar ações transformadoras com base em evidências resultantes de estudos que ajudam a compreender a complexidade das relações raciais no país e as problemáticas delas decorrentes que precisam ser enfrentadas. Neste sentido, prevê uma série de estudos com recortes nacional e regionais em seus territórios de intervenção, especialmente no Amazonas, Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo. O objetivo é mapear a percepção da sociedade em geral, de profissionais da educação e estudantes sobre o racismo, as desigualdades raciais em geral e na educação, a efetividade das políticas de combate ao racismo, as lacunas de ferramentas e metodologias para fomento à equidade racial e as estratégicas bem-sucedidas e boas práticas nacionais e internacionais que podem inspirar ações de valorização da diversidade e das diferenças e de mitigação das desigualdades, especialmente na área de educação.

1) Pesquisa bianual de mapeamento de público sobre percepções do racismo pela sociedade brasileira.
2) Grupos focais bianuais sobre percepções do racismo pelas comunidades escolares.
3) Monitoramento e avaliação dos indicadores educacionais com análise dos indicadores da educação com foco em raça, gênero e território.
4) Estudos liderados pelas organizações que compõem o Projeto SETA sobre “educação escolar indígena”, “educação escolar quilombola”, “trajetória educacional de meninas negras”, “juventude negra, educação e violência”, “impacto da reforma do ensino médio no aprofundamento das desigualdades educacionais” e “construção participativa de indicadores e diagnóstico sobre qualidade na educação e relações raciais”.
Todas essas produções são/serão disponibilizadas publicamente para auxiliar a sociedade na construção de narrativas qualificadas, com base no retrato da realidade, em defesa da equidade racial na educação, além de orientar ações do projeto.

O PROJETO SETA – SISTEMA DE EDUCAÇÃO PARA UMA TRANSFORMAÇÃO ANTIRRACISTA É UM PROJETO APOIADO PELA FUNDAÇÃO W. K. KELLOGG, DESDE 2021, QUE REÚNE ORGANIZAÇÕES NACIONAIS E INTERNACIONAIS EM ATUAÇÃO CONJUNTA POR UMA EDUCAÇÃO PÚBLICA ANTIRRACISTA E DE QUALIDADE.