Postado em: 8 maio, 2025
Gênero, raça e educação são temas discutidos no Encontro “Experiência de Aprendizagem sobre Equidade Racial 2030”

Programação do evento teve discussões potentes sobre o futuro da educação e troca de experiências entre as organizações participantes
Dando continuidade à cobertura do evento “Experiência de Aprendizagem sobre Equidade Racial 2030”, promovido pela Fundação W. K. Kellogg, em parceria com o projeto SETA, agora, você confere os demais conteúdos que foram abordados durante o primeiro dia de programação. O encontro contou com discussões potentes sobre o futuro da educação, assim como debates dedicados à equidade racial e troca de experiências entre as organizações.
O painel “As intersecções do Projeto SETA entre gênero, raça e educação – trabalhando coletivamente para promover um sistema de educação antirracista, inclusivo e equitativo no Brasil” fez parte da programação, e teve a mediação de Daniela Vieira, Consultora de Articulação da ActionAid.
A lista de painelistas foi composta por Cristina Assunção, da UNEafro Brasil; Emanuel Herbert, da Makira E’ta; Givânia Maria Silva, da CONAQ; Tânia Portella, do Geledés; Avanildo da Silva, da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação; Ednéia Gonçalves, da Ação Educativa; Luciana Ribeiro, do Projeto SETA e Zama Mthunzi, da ActionAid Internacional. Durante o debate, os representantes das organizações que compõem a aliança do SETA, compartilharam suas histórias, experiências e atuações nas respectivas iniciativas.
Sistema de ensino pautado pela educação das relações étnico-raciais

Educação antirracista é abordado em evento do Projeto SETA (Foto: Projeto SETA)
Cristina Assunção, representante da UNEafro Brasil, comentou, durante sua participação, acerca da mobilização de jovens negros e periféricos por meio de cursinhos populares, uma das atividades mais longevas da instituição. “Esse trabalho se consolidou com o modelo de sistema de ensino pautado pela educação das relações étnico-raciais, com o objetivo de reorganizar e fortalecer trajetórias acadêmicas desses adolescentes, proporcionando que eles alcancem uma cadeira no Ensino Superior e acesso ao técnico profissionalizante”, salientou a profissional. De acordo com Cristina, atualmente, a UNEafro Brasil conta com 32 núcleos de cursinhos populares em todo o território nacional.
Trabalho colaborativo em prol da mudança sistêmica na educação
Ainda durante o primeiro dia houve uma mesa dedicada às demais organizações contempladas pelo “Desafio de Equidade Racial 2030”, iniciativa da Fundação Kellogg, que financia, também, o Projeto SETA. O painel “Enfrentando o momento, alimentando o futuro: colaboração para mudanças sistêmicas” foi composto por: Shawm Kanai’aupuni, da Opportunity Youth; Akua Kankam, da Communities United; Christopher Foley, da Indian Law Resource e Sônia Park, da Namati. O Projeto SETA foi representado pela Gestora de Monitoramento e Avaliação, Jaqueline Santos e por Marcelo Perilo, Consultor do SETA.
Os integrantes da mesa tiveram a oportunidade de apresentar, através de vídeos e falas, o contexto de atuação de seus respectivos projetos, seus resultados e experiências com os participantes do encontro, além de entenderem como a colaboração intersetorial auxilia na mudança sistêmica.
Christopher Foley, da Indian Law Resource, organização que tem como principal objetivo auxiliar na superação dos graves problemas que ameaçam os povos indígenas, destacou como exemplo de atuação da iniciativa, o trabalho realizado com um grupo de jovens, que resultou na criação do programa “Minds Matter”.
“Esses jovens realizaram um estudo de ação participativa para identificar problemas dentro das comunidades negras, que se concentram na saúde mental. E, como parte das recomendações da pesquisa, um dos pontos identificados foi que eles precisavam de um caminho para terem acesso ao bem-estar psicológico. Então, como consequência dessa sugestão, o Hospital parceiro nos ajudou a criar o Programa Minds Matter, que oferece a oportunidade dos jovens trabalharem a saúde mental”, destacou Foley.
Riqueza histórica, herança e resiliência das comunidades afro-brasileiras
O primeiro dia de programação encerrou com uma atividade pra lá de especial. Após um dia repleto de debates ricos e inspiradores, todos os participantes do evento tiveram a oportunidade de fazer uma visita guiada ao Museu Afro-Brasil.
A Instituição, fundada em 2004, exalta as contribuições da população negra para a formação da sociedade e cultura brasileira, e retrata a riqueza dos universos culturais africanos e afro-brasileiros, além de destacar temas como religião, arte e história.
Os convidados foram recebidos pelo grupo Ilú Obá De Min, que fez uma linda apresentação. Em seguida, a poeta Luz Ribeiro, declamou poesias. E, por último, os convidados conheceram a exposição permanente da Instituição, que é cheia de significado cultural e homenageia a história e resiliência das comunidades afro-brasileiras.
Confira a poesia “Mulher de Palavra” recitada por Luz Ribeiro:
Sou mulher de papel
Me compõe celulose e celulite
Me derreto fácil
Me arremesso frágil
Me quiseram ágil
Eu leito, tento
Sou mole de iguais peitos flácidos
E seio farto
Outrora plácido
Hoje turbulento
Minhas estrias são mapas
Que não levam a lugar algum
São marcas de uma cansável aceitação
De quem já ousou caber nos incabíveis:
38, liso, moda, mídia, média …
Fracasso, eu não me caibo
Meu mundo é vasto
Número 44/46/48
Punho de aço
Cabelo em riste
O abraçar insiste
Mas me mudo rápido
Solidão persiste
Amorenaram-me e eu amornei
Me queriam quente
Mas sou ardida
Instantaneamente em 3’ minutos
Fico fria, vê?
Como mulher meu papel
Deveria ser o de cuidar da minha família
Deveria ser o de servir meu esposo
Deveria ser o de gerir 5 filhos
Deveria ser o de parir os cinco filhos
E ainda cuidar dos cachorros
Deveria ser o de propiciar gozo
Mas eu devo e não nego
E essa dívida é uma dúvida
E na dúvida deixo o pagamento
Em aberto
Estou fora do prumo
Não ando nas linhas
Extrapolo as margens
Sou papelote
Sou só um risco na folha
E arrisco riscar poesias
Eu rio ansiando amar
Em mim, só o riso é frouxo
Talvez os braços também
Deixo tudo escapar
Permanece o que convém
As pernas são fortes
O chão é que me escapa
Com mania de voo
Poemas dão asas
Minha gramática é sintomática
Não estou nos livros
Por isso escrevo histórias
Passar do calendário
Demarca minha trajetória
Sou mulher de papel
No papel e fora dele
Que deus me permita, agora
Ser uma mulher de palavra